domingo, 3 de abril de 2011

A dívida de Theo - Ex-dependente de crack devolve dinheiro a pessoas que enganou nos tempos de vício



Quem chega ao salão de beleza de Teófanes Marques Ribeiro, de 27 anos, não acredita que há seis meses, o jovem era escravo do crack e chegava a fumar 40 pedras em um só dia.
Ainda mais impressionante é ver que uma de suas clientes é a aposentada Aparecida Castelani Oliveira, 75, de quem ele tirou R$ 700 em cosméticos para trocar pela droga.

“Quando o vi em meu portão dizendo que iria me devolver não acreditei. Liguei para a mãe dele e perguntei se era verdade”, recorda Aparecida.

Realidade muito diferente da vivida por ele durante os cinco anos de dependência química.

“Fui praticamente destruído pelo crack. À noite, perambulava como um zumbi, durante o dia, não era mais do que um pedinte”, conta o rapaz.

Aos poucos, Teófanes está devolvendo, em dinheiro, prejuízos causados aos outros para sustentar o vício. A quem enganou, pede desculpas.
Em janeiro, o rapaz devolveu R$ 500 a aposentada para quitar parte da dívida após levar dela cosméticos com a promessa de que iria revendê-los. Trocou tudo por crack.
Emocionada com o ato de Teófanes, Aparecida perdoou o restante da dívida e ainda se tornou cliente do salão.
Assim como fez com a aposentada, Theo (como é mais conhecido) enganou e incomodou comerciantes e vizinhos.

“O lema da minha vida era conseguir ‘dezão’ [R$ 10] para comprar pedra. ”

Com reconhecido talento para convencer, se fazia passar por outras pessoas ao telefone e comprar no comércio local. Produtos que se tornavam moeda para a compra de crack.

“Dizia ser alguém conhecido e que o ‘Theo’ passaria para buscar o produto comprado. Depois era só levar para os traficantes.”
Com esse tipo de golpe, o jovem logo passou a ser frequentador assíduo da delegacia da pequena cidade.

“Perdi as contas de quantas vezes o trouxe para cá. Passava dias detido, mas não adiantava. Logo voltava a aprontar outra”, diz o investigador-chefe de Tanabi, Adilson Cavassona.

Atualmente, com o fruto do trabalho, vem pagando a todos que prejudicou nos tempos de viciado. “Isso me faz bem.”

Pela fé, veio a cura

Teófanes atribui à misericórdia divina a conversão ocorrida em setembro do ano passado; ele agora é evangélico praticante
Desacreditado por amigos e familiares, Teófanes chegou ao fundo do poço no ano passado.
Fumava entre vinte e quarenta pedras por dia. Em casa não havia mais roupa de cama, travesseiro, eletrodoméstico ou roupas. Tudo havia sido trocado por crack.
Até um carro e uma moto da família foram dados como garantia a traficantes.
As atitudes e alucinações do rapaz fizeram o padrasto deixar a família. Além da mãe Cléia, um irmão adotivo, hoje com 14 anos, eram sua família.
Para vestir, sobravam apenas um chinelo e uma camiseta de candidato. Até que em 26 de setembro, uma visão mudaria os rumos da vida de Theo.

Conversão

Depois de atravessar a noite fumando crack, já maltratado por depressão e síndrome do pânico, o jovem simplesmente se ajoelhou e passou a pedir a Deus que lhe tirasse daquela vida.
Então, segundo ele mesmo relata, entre um delírio e outro, uma visão lhe mostrava a fachada da Igreja Assembleia de Deus daquela cidade. Sozinho, foi até o templo e, ouvindo um chamado do pastor foi até o altar.

“Lembro que o pastor disse para aqueles que precisassem de um milagre ir até a frente. Fui o primeiro. Enquanto ele orava, me ajoelhei e chorei muito. Senti com se estivesse sendo lavado por Jesus Cristo”, diz.

Teófanes afirma que, depois de deixar a igreja, nunca mais teve vontade de fumar crack.

“Agora vou a todos os cultos [três vezes por semana] para me manter fortalecido na fé”, afirma Theo, que repete a rotina há seis meses.

Com ajuda da mãe e dos amigos que restaram, o rapaz transformou a sala de estar da casa da mãe em um salão de beleza, onde atente dezenas de clientes diariamente.

Na Justiça

Dos anos de vício, restam a Teófanes 13 processos na Justiça, por estelionato e furto. Três já foram arquivados depois de as vítimas retirarem a queixa.

“Depois que devolvo o dinheiro, as pessoas não veem motivo para continuar com o processo”, diz. Em casa, o cabeleireiro guarda uma dúzia de recibos assinados pela vítimas.

Internações

O jovem passou por oito internações em cinco anos. Sempre que saía, voltava a usar crack.



Fonte: Rede Bom Dia

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