
Há seis anos, ele mora nas ruas. Dorme sob viadutos, em obras inacabadas ou em uma calçada qualquer.
Quem vê Márcio não diz que tem apenas 33 anos. Magérrimo, aparenta 60. Poucos dentes sobraram em sua boca e o olhar é triste e nebuloso.
O morador de rua Márcio sentando na calçada da avenida Bady Bassitt ao lado dos recicláveis que recolhe: “Isso tudo vai virar fumaça amanhã” (Foto: Milena Aurea/Agência BOM DIA)
Esse é o retrato dos moradores de rua de Rio Preto. Eles são jovens e dependentes de drogas.
Rio Preto tem 180 pessoas que vivem nas ruas, 157 são homens e 23, mulheres.
Do total, 73 têm entre 20 e 40 anos, 104 são dependentes químicos, e 66 estão nas ruas há até seis anos e não conseguem retornar ao convívio social.
Drogas
Márcio e a família vieram da Bahia, há 11 anos. No coração o desejo de ter uma casinha, TV e uma vida comum.
Mesmo com ensino fundamental incompleto, trabalhou em metalúrgicas e começava a traçar um caminho, mas conheceu a pedra, que enterrou seus sonhos. Agora é catador de materias recicláveis.
Levantamento do Creas (Centro de Referência da Assistência Social para a População de Rua) mostra que 52 atuavam na construção civil.
“Tudo que consegui pegar hoje vai virar fumaça amanhã”, disse na noite de quarta-feira, numa alusão ao crack. A única conquista de Márcio é a Neguinha, vira-lata que o acompanha mesmo quando não há o que comer.
As drogas em Rio Preto
Dise apreendeu 352 quilos de drogas em 2010 na cidade
A Dise (Delegacia de Investigações sobre Entorpecentes) apreendeu 300 quilos de maconha, 34,5 quilos de cocaína, 18 quilos de crack e mais 191 gramas de haxixe em 2010, em Rio Preto.
Foram detidas 452 pessoas por tráfico no ano passado
No ano passado, foram detidos em Rio Preto 355 homens, 60 mulheres e 37 menores, num total de 452 pessoas, todos por tráfico de drogas.
Apreensão em 2009 foi de 155 quilos de drogas
Em 2009, a Dise apreendeu 46 quilos de maconha, 95 de cocaína, 14 de crack e 26 gramas de haxixe. Foram detidas 411 pessoas por tráfico de drogas.
Programa quer resgate de morador das drogas
Consultório de Rua, o novo programa da Secretaria Municipal de Saúde, tem foco exatamente nessas pessoas, que recebem pouca atenção da sociedade e das autoridades públicas.
Com exceção de ONGs, programas religiosos e do Hospital Bezerra de Menezes, viciados em crack e outras drogas, só podem contar com o Caps AD (Centros de Atenção Psicossocial Álcool e Drogas), em Rio Preto. Dos 180 moradores de rua, 104 assumiram ser dependentes de drogas.
Durante três semanas o BOM DIA tentou entrevistar a secretária de Assistência Social, Ivani Vaz de Lima, para saber o tipo de ajuda que eles recebem, mas não houve retorno.
“A prefeitura nunca fez nada por nós. Quando sinto fome vou comer o sopão que entidades dão para nós”, disse Willian (nome fictício), 22, morador de rua há 1 ano. Deixou a casa dos pais por causa do crack.
Consultório
O Consultório de Rua vai funcionar das 18h às 24h, a partir de 1º de abril.
Uma equipe formada por cinco redutores de danos, um psicólogo, um assistente social e uma enfermeira, vai vasculhar o Centro em busca de moradores de rua que precisam de algum tipo de auxílio.
“Será uma abordagem com levantamento social e avaliação psicológica do usuário de drogas”, diz Hubert Eloy Pontes, coordenador do programa Saúde Mental de Rio Preto.
A enfermeira vai fazer pequenos curativos. “O morador de rua não costuma buscar atendimento no pronto-socorro ou unidades de saúde.”
Depois desse primeiro contato, os profissionais vão tentar uma aproximação maior e, convencer essas pessoas a passar por tratamento.
Desintoxicação
Rio Preto não dispõe de instrumentos públicos para internar dependentes químicos. O Centro de Desintoxicação, que será construído, é uma exigência do Ministério Público, exatamente para dar uma chance ao dependente de deixar a droga.
Ainda não há prazo para o início das obras. Pelos projeto, a capacidade inicial será de 30 leitos para pessoas de ambos os sexos e qualquer idade.
A internação será de 30 a 40 dias. “Se houver necessidade de mais tempo, vamos encaminhar para clínica de recuperação.”
Recuperação
Foram necessários seis meses de internação e mais um ano e seis meses de trabalho voluntário em clínica de reabilitação para Vagner Alves dos Reis, 30, conseguir deixar o crack.
Ele havia tentado tratamento no Caps AD, sem sucesso. “A abordagem é de redução de danos. Não é viável para alguém viciado em crack.”
Vagner se especializou em dependência química entre adolescentes e lança em abril o livro: “Papo sério sobre drogas” para educadores, familiares e adolescentes.
Ele afirma que o combate às drogas tem que começar cedo e que deveria ser matéria obrigatória nas escolas.
Leia na íntegra: Rede Bom Dia